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Scot Consultoria

O Brasil será um bom "player" no mercado internacional de alimentos?


por Otaliz

Quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008 - 18h15

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


É indiscutível que o nosso país tem uma enorme série de vantagens comparativas e competitivas que favorecem sobremaneira a nossa participação efetiva no comércio internacional de alimentos. Temos energia solar abundante, clima e solo favoráveis à exploração agropecuária ao longo de todo o ano. Poderemos com certa facilidade triplicar nossa capacidade produtiva nas diferentes áreas do setor primário. Mas é imperioso que reconheçamos a existência de fatores limitantes que, se não contornados, poderão restringir ou mesmo anular as nossas vantagens. FATORES LIMITANTES O primeiro fator limitante é o baixo nível educacional da população rural e urbana do nosso país. Trata-se de um problema crônico que não será solucionado a curto ou médio prazo. Mesmo porque a educação nunca foi prioridade dos nossos governos e as conseqüências desse descaso são desastrosas. O Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), a cada três anos testa o conhecimento geral de vários países. Na sua última edição esse programa testou o nível educacional de 57 países. Ficamos em 48º lugar. As deficiências na educação básica, fazem com que produtores rurais, na medida em que têm sua capacidade de percepção limitada a horizontes muito estreitos, refugiem-se numa espécie de mundo particular. Neste ambiente peculiar se sentem seguros e, consciente ou subjetivamente, assumem uma postura de resistência frente ao novo, ou seja, a tudo aquilo que não foi gerado dentro desse mundo particular. Esse comportamento se manifesta de várias formas: Forte apego às tradições e ao conservadorismo. Vale mais o conhecimento e as experiências das gerações anteriores do que a orientação técnica de pessoas, que aparentemente não têm vivência no meio rural. Neste particular, a orientação do vizinho merece mais credibilidade que a do técnico, o que ajuda a perpetuar práticas inadequadas ou ultrapassadas. A falta de conhecimentos básicos em matérias como matemática e biologia, entre outras, torna difícil o entendimento e, por conseqüência, a aplicação de procedimentos simples como formulação de rações, cálculo de dosagens de medicamentos, adubos e defensivos, monitoramento da produção, controle de custos, planejamento, etc. O precoce abandono da escola não permitiu que fosse incorporado o hábito da leitura. Portanto, a informação escrita tem uma penetração muito restrita nesse meio, posto que é pobremente absorvida pelo produtor rural. Neste ambiente, as mudanças ou exigências impostas pelo mercado globalizado, não são “digeridas” pelos produtores o que, certamente, retardará de forma acentuada a adaptação às novas demandas e exigências do mercado. Mas, há um outro fator limitante no atual cenário, tão ou mais importante do que a precariedade do nosso sistema educacional: a falta de ética, de moralidade, de profissionalismo e de dignidade de uma parcela considerável de empresários responsáveis pela gestão das agroindústrias brasileiras. Já vendemos, ou tentamos vender, soja envenenada para a China, frangos contaminados para a Europa e, mais recentemente, carne bovina oriunda de rebanhos não rastreados, exigência contratual dos países compradores. Diante desta realidade é natural que a credibilidade do Brasil como “player” no mercado internacional esteja próxima de zero. Estes dois fatores limitantes, se não forem encarados com seriedade pelas autoridades governamentais e por todos os segmentos que constituem nossas cadeias agroindustriais, poderão comprometer sobremaneira o nosso desempenho no mercado mundial de alimentos.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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